Neo-ateísmo: que trem é esse?

Já há algum tempo tenho ouvido falar em neo-ateísmo. Aparentemente é uma expressão inventada recentemente, sabe-se lá por quem, para designar ateus “militantes”, que buscam converter os crentes e resgatá-los das “garras maliciosas” da religião. Entre os representantes mór do neo-ateísmo se ouvem nomes como Richard Dawkins, Christopher Hitchens e Sam Harris (sim, só gringos – pelo visto não tem nenhum neo-ateu proeminente em terras brasileiras ainda).

Mas qual é a diferença entre o neo-ateu e o ateu comum, o ateu moleque, o ateu de raiz? Basicamente, o neo-ateu acredita que a religião e/ou a crença em entidades divinas sejam prejudiciais às pessoas e tentam convertê-las ao ateísmo. Já o ateu old-school simplesmente não acredita em deus nenhum, mas também não se importa com o que os outros acreditam.

Isto posto, eu confesso que não saberia dizer se eu seria considerado um ateu light ou um neo-ateu. Normalmente esse é o maior problema com os rótulos, sempre existem aqueles que não se encaixarão neles, o que talvez seja meu caso.

Eu não tenho e nunca tive intenção nenhuma de converter ninguém ao ateísmo. Não digo que nunca terei, porque nunca se sabe o que o futuro nos reserva, mas eu sinceramente não acredito que a crença das pessoas com quem convivo tenha grande relevância em nossos relacionamentos.

Pois pra mim as ações de uma pessoa são muito mais importantes do que suas crenças. E existem pessoas religiosas boas e más, assim como existem ateus bons e maus. Pouco me importa se você acredita em Deus, Jesus, Yahveh, Alá, Brahma, Zeus, Rá ou que o coelhinho da páscoa criou o universo, desde que você seja uma pessoa boa. E eu não me relaciono com pessoas que não acho que sejam boas, sejam crentes ou ateus.

E também acho que a religião até tenha seus benefícios. Tem alguns malefícios, em minha opinião, mas se a pessoa se sente feliz e realizada seguindo uma determinada convicção religiosa, quem sou eu para dizer que ela está errada.

No entanto, acho que não se pode confundir tolerância à crença com carta branca para se fazer o que bem entender em nome da religião.

Em meu post inicial eu disse que algumas idiotices são ditas por religiosos. Espero que não se confunda minha intenção, eu não quis dizer que a religião em si ou as pessoas que a seguem são idiotas. Porém, se eu considero uma coisa idiotice, eu vou dizer que a considero idiotice, independente de alguém achar que isso fere a crença religiosa de alguém ou não.

Um exemplo para clarificar a questão: casamento homossexual. Eu acho que se duas pessoas se amam, são adultas e querem viver juntas de livre vontade, não há motivo para o Estado impedir que elas o façam.  No entanto, algumas pessoas acham que elas não podem fazê-lo porque o deus que elas seguem disse que isso é pecado.

Eu não acho que acreditar que o homossexualismo seja pecado é idiotice. Apesar de eu pessoalmente não ver lógica nenhuma nesse modo de pensar, as crenças religiosas por definição não precisam de lógica para se sustentar. Ou melhor colocando, basta possuir uma lógica interna ao sistema religioso em que se inserem que elas são aceitas. Nesse exemplo em específico, acredita-se que deus ao criar o mundo separou os seres humanos em macho e fêmea e que se pessoas do mesmo gênero mantiverem relações uma com a outra, estariam ofendendo ao criador.

Até aí tudo bem, cada um acredita no que quer, independente de ser condizente com a realidade ou não. O que eu quis dizer que acho idiotice não é o fato de você acreditar nisso, mas sim achar que o que você acredita deve ser aceito e imposto à todas as outras pessoas e exigir que o Estado adote oficialmente a sua visão de mundo.

Esse foi apenas um exemplo, mas existem diversos outros que poderiam ser citados. Esperar que se aceite coisas desse tipo calado, usando a intolerância religiosa como bode expiatório é no mínimo má-fé, com o perdão do trocadilho.

Um outro exemplo: se a religião não existisse e alguém dissesse que as mulheres têm que usar uma vestimenta que cubra todo o seu corpo, provavelmente seria visto como um louco. Eu acharia – novamente – uma idiotice obrigar os outros a se vestirem de determinada maneira. Mas como existem milhões de pessoas que acham normal uma mulher não poder mostrar os braços em público porque sua religião não permite, de repente isso deixa de ser loucura ou idiotice?

Se eu achasse que seria uma idéia interessante furar o olho esquerdo de toda criança primogênita recém nascida, eu provavelmente seria internado e me entupiriam de tarjas pretas, com razão. Mas se uma religião dissesse que seus preceitos religiosos exigem esse sacrifício, deveria ser respeitada sem maiores questionamentos? Em caso positivo, a religião pode justificar qualquer comportamento; em caso negativo, qual é o limite estabelecido pra diferenciar comportamentos religiosos justificáveis ou não? A mera tradição? Se fizessem isso há 1000 anos passaria a ser aceitável?

Enfim, eu não sou contra a religião ou religiosos. Sou contra a religião e religiosos que espalham idiotices. E o que eu considero como idiotices? Qualquer coisa que prejudique a liberdade e o direito de outras pessoas, em especial as que não têm nada a ver com aquela religião em específico. Mas não sou restritivo, eu também sou contra ateus que espalhem idiotices.

Então isso me faz um ateu moderado ou um neo-ateu? Eu não sei, e também não ligo muito. Isso me faz ser eu mesmo e por enquanto estou satisfeito dessa maneira.

1 comentário

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Uma resposta para “Neo-ateísmo: que trem é esse?

  1. Diego

    Esse termo neo ateu foi inventado por crentes para desmerecer todo ateu que não fica calado, quando o Orkut surgiu e com ele imagens e dizeres religiosos você viu alguém falando em neo cristão?

    Para um crente o simples fato de ser ateu já é um tremendo desrespeito, não uso facebook e concordo que há excessos muitas vezes até infantis mas não os condeno, é um pequeno e inofensivo “payback” por tudo que o ateu passa na sociedade.

    Como diria aquela expressão: “payback is a bitch”

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