O que é ser ateu?

Em algumas rodas de conversa, dependendo do rumo da prosa, eu eventualmente tenho que me declarar ateu. E por mais que eu tente fazer com que isso pareça uma coisa natural, não raramente me deparo com olhares assustados ou até mesmo de asco, como se eu tivesse afirmado que sou portador de alguma doença infecto-contagiosa gravíssima. E por vezes, alguns olhares de desprezo também.

Infelizmente a sociedade em que vivemos ainda não vê o ateísmo com bons olhos. Para algumas pessoas “ateu” é sinônimo de uma pessoa fria, sem coração, malvada egoísta, ou, dependendo da orientação religiosa, pecadora, satanista, anticristo etc.

Desnecessário dizer que eu não me considero nada dessas coisas. Bom, talvez um pouco frio, mas isso eu já era antes de me descobrir ateu, quando me considerava católico, de modo que eu não vejo nenhuma relação entre as duas coisas.

Mas então, afinal de contas, o que significa ser ateu?

Ateísmo é, na definição mais básica, simplesmente a ausência de crença em entidades divinas. O ateu não acredita em deuses e ponto final. Não há uma filosofia padrão a ser seguida, não há dogmas, escolas com diferentes entendimentos ou estudiosos do ateísmo.

Se algum dia você chegou à conclusão de que não existia nenhum deus, parabéns, você também é ateu. Nem requer um processo de conversão, banhos em rios, corte de prepúcios nem nada.

Ao mesmo tempo em que essa simplicidade de definição gera uma liberdade de pensamentos entre os ateus, ela também pode gerar uma certa dificuldade de se adquirir um senso de comunidade. Uma religião normalmente não se limita à crença em torno de algo, ela acaba gerando um código de ética e moral próprios, uma forma de conduta homogênea, um modo de pensar sistemático. Em algumas religiões até a forma de se vestir é uniformizada – pergunte aos missionários dos adventistas de sétimo dia.

Com os ateus não há como haver nada disso. Não há ninguém ditando regras, não há maneira certa de se pensar. Há em comum apenas o fato de não se acreditar em divindades, mas fora isso, ateus podem discordar a respeito de qualquer outra coisa. O padrão é o questionamento.

Isso é ótimo para estimular o livre pensamento, mas não é muito recomendável para unir as pessoas em torno de uma causa. Por isso não se vêem muitas reuniões de pessoas atéias. Não temos a obrigação de ir a um encontro semanal para agradar ninguém, ou peregrinações para lugares sagrados que nos obriguem a ficar juntos.

Este foi um dos motivos que me levaram a querer escrever este blog. Não que eu tenha a intenção de unir os ateus do Brasil, seria muita pretensão de minha parte. Mas se eu puder contribuir um pouco com a formação de uma comunidade ateísta, nem que seja um grão de areia numa praia, já me sentirei bem.

Espero também fazer com que os outros ateus vejam que não estão sozinhos por aqui, que participem e se quiserem, compartilhem suas histórias e pensamentos. Como isso é um blog, não um jornal, a maioria das coisas aqui postadas serão minhas opiniões, e certamente haverá quem discorde delas. Discussões são bem vindas sempre, de ateus ou religiosos, desde que haja respeito e cordialidade. Mas também haverá alguns fatos quando eu puder postá-los.

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